Entre textos e contextos: caminhos do ensino de História – Resenha por Geraldo Neto

Entre textos e contextos: caminhos do ensino de História – Resenha por Geraldo Neto

O texto abaixo é uma resenha de um capítulo do livro “Entre textos e contextos: caminhos do ensino da História”, organizado por Ana Heloisa Molina e Carlos Augusto Lima Ferreira.  A resenha a seguir fala sobre o capítulo “Para além das leis: o ensino de culturas e histórias africanas, afrodescendentes e indígenas como decolonização do ensino da história”, de Elison Antonio Paim.

 

            O capítulo “Para além das leis: o ensino de culturas e histórias africanas, afrodescendentes e indígenas como decolonização do ensino da história”, de Elison Antonio Paim faz parte do livro Entre textos e contextos: caminhos do ensino de história, organizado por Ana Heloisa Molina e Carlos Augusto Lima Ferreira, publicado em 2016 pela Editora CRV, de Curitiba.

Elison Antonio Paim é Professor Adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem experiência na área de História e Educação, com ênfase em Práticas de Ensino, Experiências de Ensino.

Neste capítulo, o autor relaciona o pensamento decolonial com o ensino de história, como forma de valorização da história e cultura afro-brasileira e indígena. Segundo o autor, de modo geral, o pensamento decolonial vem buscando romper com a colonização epistêmica vivida pelos povos não europeus. (p. 142). Se expressa no ceticismo e na dúvida para com o projeto colonial.

Paim descreve como a ação dos colonizadores europeus a partir do século XV foi devastadora para os povos conquistados, como os indígenas e os africanos. Os colonizadores preocuparam-se em destruir imaginários, invisibilizar sujeitos para que, assim, pudessem afirmar seu próprio imaginário. Utilizaram-se de múltiplas estratégias para naturalizar e internalizar um pensamento único, racional, moderno cristão dos europeus como sendo o único correto. (p. 144). Os povos não europeus passaram a ser racializados, classificados e patologizados de acordo com uma hierarquia europeia que definiu quais eram as raças inferiores. Sendo assim, os demais povos, inferiores que eram, poderiam ser submetidos, escravizados, torturados e até eliminados sem o menor constrangimento. (p. 144).

O autor utiliza a ferramenta teórica do conceito de “colonialidade” como forma de combater o pensamento eurocêntrico, ainda predominante em muitas áreas do conhecimento. Paim aponta quatro tipos de colonialidade: a colonialidade do poder, a colonialidade do ser, a colonialidade do saber e a colonialidade da natureza.

A consolidação da colonialidade do poder se assenta em alguns eixos, como um sistema de classificação social, que toma por base uma hierarquia racial e sexual, e na distribuição de identidades sociais em superiores e inferiores. (p. 145).

A colonialidade do ser se dá por meio da interiorização, subalternização e desumanização, quando ocorre a “não existência” dos sujeitos, isto é, a desqualificação é de forma tão ampla que acaba sufocando todas as possibilidades de existência daqueles sujeitados à colonialidade. (p. 146).

A colonialidade do saber evidencia-se especialmente nos sistemas educativos, em todos os níveis e idades, nos quais se prima por conhecimentos e ciências pautados na modernidade e racionalidade europocêntricos. (p. 146).

Por fim, ao tratar da colonialidade da natureza observa que com a colonialidade toda a natureza passou a ser pensada e utilizada de forma que atenda apenas ao princípio capitalista da acumulação e do lucro, desconsiderando qualquer outra possibilidade de relação entre os seres humanos, os não humanos e a própria terra. (p. 148).

Nesse sentido, para o autor, a decolonização deve ser uma (des)aprendizagem de tudo que foi imposto e assumido pela colonização e a desumanização para que homens e mulheres reaprendam a ser sujeitos de si. (p. 149). Para que ocorra a decolonização de corpos e mentes é preciso assumir a perspectiva epistemológica decolonial como um processo de ação, e pedagógico para a transformação social e um caminho possível para a construção de um outro mundo. (p. 149). A decolonização rompe com a invisibilidade dos ditos conhecimentos populares, leigos, plebeus, camponeses, ou indígenas parando de trata-los como crenças, opiniões, magia, idolatria, entendimentos intuitivos ou subjetivos. (p. 151).

Paim finaliza destacando que o desafio é elaborar e viver uma educação pluricultural. Uma educação que prepare para o diálogo com os “outros”, aqueles que historicamente foram minorizados, foram ditos sem história, inferiores, sem cultura e tantos outros adjetivos que os desqualificaram. Uma educação que exalte, as diferenças entre os povos, sem, no entanto, hierarquizá-las. (p. 162).

Como já disse Fanon, é preciso aprender a desaprender tudo o que foi imposto pela colonização e desumanização para reaprender a ser homens e mulheres, quiçá, mais abertos para conhecer as outras histórias - as que foram até então negadas como não históricas por não serem europeias. (p. 162).

Dessa forma, o capítulo se mostra de grande contribuição para que os professores de História, e também de outras disciplinas, possam repensar seus olhares e práticas de ensino, possibilitando que as novas gerações tenham conhecimento sobre a história e cultura africana a partir de uma perspectiva decolonial, superando o eurocentrismo e estimulando a formação de uma sociedade mais democrática e de respeito às diferenças.

 

Referência: 
PAIM, Elison Antonio. Para além das leis: o ensino de culturas e histórias africanas, afrodescendentes e indígenas como decolonização do ensino da história. In: MOLINA, Ana Heloisa; FERREIRA, Carlos Augusto Lima. Entre textos e contextos: caminhos do ensino de história. Curitiba: CRV, 2016, p. 141-166.

GERALDO MAGELLA DE MENEZES NETO
GERALDO MAGELLA DE MENEZES NETO

GERALDO MAGELLA DE MENEZES NETO Geraldo Magella de Menezes Neto, doutor em História Social da Amazônia na Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor da Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC) e da Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC). Administrador da página “História Pública na escola” no instagram (@historiapublicanaescola).

Comentários