História, educação e questões raciais no Brasil: os censos demográficos como fontes de pesquisa – Resenha por Geraldo Magella de Menezes Neto

História, educação e questões raciais no Brasil: os censos demográficos como fontes de pesquisa – Resenha por Geraldo Magella de Menezes Neto

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O texto a seguir é resenha do capítulo “História, educação e questões raciais no Brasil: os censos demográficos como fontes de pesquisa”, de Genilson Ferreira da Silva, que faz parte do livro “Pesquisa em História e Educação: desafios teóricos e metodológicos”, organizado por Genilson Silva, Iracema Lima e Maria Sigmar Passos, uma resenha de autoria de Geraldo Magella de Menezes Neto.

 

“História, educação e questões raciais no Brasil: os censos demográficos como fontes de pesquisa”, de Genilson Ferreira da Silva, é um capítulo do livro Pesquisa em História e Educação: desafios teóricos e metodológicos, organizado por Genilson Silva, Iracema Lima e Maria Sigmar Passos, publicado pela editora CRV, em 2019.

O capítulo é de autoria de  Genilson Ferreira da Silva, que é Doutor em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). É professor assistente da UNEB, Campus VI Caetité. Tem experiência na área de História, com ênfase em História da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, lei de diretrizes, racismo, história, educação e domínios da história, Mobral, história da educação, ditadura militar e arquivos escolares.

O capítulo tem por objetivos a utilização dos Censos Demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, como fonte histórica para a compreensão de novos objetos que se apresentam para a história, em especial a História da Educação, principalmente quando este domínio passa a considerar temas antes marginalizados, como a discriminação racial e a instrução dos brasileiros. (pp. 39-40).

 

O autor busca também abordar o processo de preterição de negros e mestiços quanto ao acesso à educação formal e como os dados contidos nos censos confirmam a existência deste fenômeno nas relações raciais brasileira. (p. 40).

Genílson Silva demonstra que os dados demográficos podem ser utilizados com a finalidade de avaliar progressos sociais; estabelecer planejamento, visando à projeção de números de crianças em idade escolar; diagnosticar os números de mortalidade infantil e evasão escolar de alunos da educação formal; realização de estudos socioeconômicos como desemprego, pobreza, condições de habitabilidade e instrução da população.

Silva acrescenta ainda a possibilidade de realização de estudos raciais com o fito de perceber grau de discriminação, existência e ou persistência do racismo, estudar as diferenças de gênero e cor percebendo o impacto deste fenômeno nas relações sociais constituídas num dado tempo e espaço. (p. 41). Por fim, aponta os censos como detentores de informações preciosas sobre negros, mestiços e índios ajuda a denunciar o silêncio que incide sobre as relações raciais discriminatórias, escondidas numa pretensa relação de democracia racial. (p. 41).

O autor faz um histórico dos censos no Brasil. O primeiro censo a ser publicado foi o do Império, de 1872. No período republicano, nos séculos XIX e XX, ocorreram os censos de 1890, 1901, 1920, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991. No censo de 1970, durante a ditadura militar, foi retirada por completo toda informação sobre a cor dos brasileiros. No censo de 1980 houve o retorno do quesito cor. E no de 1991 houve a inclusão de dados sobre as populações indígenas.

A partir dos dados sobre a educação o capítulo aponta que importa compreender o fenômeno de preterição de pretos e pardos. Também podem demonstrar o pouco investimento da educação ao longo de seis décadas consecutivas, o que faz provocar debates históricos em defesa da educação pública como forma de inserir pretos, pardos, pobres e mulheres. (p. 49).

Silva destaca que a exclusão racial é permanente, dando a entender que o fenômeno se comporta mais como estrutural do que conjuntural; o acesso dos brancos à educação formal é bem maior do que de pretos e pardos em todos os graus de ensino. O acesso à educação passa a ser um privilégio de poucos, perpetuando números adversos para pretos e pardos. (pp. 50-51).

O autor afirma que o acesso ao Ensino Superior torna-se quase inatingível para os pretos e com pouca participação por parte dos pardos. Se tornando um evento histórico que, pela repetição, se traduz num fenômeno mais estrutural que conjuntural. (pp. 52-53).

Podemos concluir que o trabalho de Genilson Silva é importante como exemplo de como os censos são fontes de pesquisa para se pensar as relações raciais no Brasil. A partir dos levantamentos dos dados, analisando de forma comparativa os censos dos séculos XIX e XX, o trabalho evidencia a exclusão racial no acesso à educação ao longo da história do Brasil.

A pesquisa nos dá mais argumentos para defender e lutar pela permanência das cotas raciais, iniciativa fundamental que hoje reflete na maior presença da população parda e preta na educação básica e superior e nas mais variadas profissões.

 

Referência

 

SILVA, Genilson Ferreira da. História, educação e questões raciais no Brasil: os censos demográficos como fontes de pesquisa. In: SILVA, Genilson Ferreira da; LIMA, Iracema Oliveira; PASSOS, Maria Sigmar Coutinho. (orgs.). Pesquisa em História e Educação: desafios teóricos e metodológicos. Curitiba: CRV, 2019, p. 39-58.

GERALDO MAGELLA DE MENEZES NETO
GERALDO MAGELLA DE MENEZES NETO

GERALDO MAGELLA DE MENEZES NETO Geraldo Magella de Menezes Neto, doutor em História Social da Amazônia na Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor da Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC) e da Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC). Administrador da página “História Pública na escola” no instagram (@historiapublicanaescola).

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