INOVAÇÕES DEMOCRÁTICAS COM MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA CÍVICA DIGITAL NO CONTEXTO ESCOLAR

INOVAÇÕES DEMOCRÁTICAS COM MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA CÍVICA DIGITAL NO CONTEXTO ESCOLAR

“É possível mudar as políticas educacionais utilizando ferramentas cívicas digitais de participação social” (Data Talks Blog WWU MÜSTER, 2021). A pesquisa intitulada INOVAÇÕES DEMOCÁTICAS COM MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA CÍVICA DIGITAL NO CONTEXTO ESCOLAR, desenvolvida pelo Doutorando Manoel dos Santos no Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, sob a orientação da Professora Drª Gisele da Silva Craveiro[1], enfoca a participação política com o uso da mediação tecnológica cívica digital para o monitoramento cidadão e avaliação de serviços e políticas públicas no contexto escolar. Tal estudo desenvolvido analisa como processos de participação política em experiências de monitoramento cidadão facilitadas pela mediação tecnológica de plataformas cívicas contribuem para a produção, análise e uso de dados e informações para avaliação e tomada de decisão na implementação de políticas públicas no contexto escolar, entre 2016 e 2022, período no quais os casos estudados foram executados.

A pesquisa parte da análise de cinco iniciativas induzidas por órgãos de accountability burocrática para produção, análise e uso de dados e informações na tomada de decisão para promover melhorias na execução políticas e serviços públicos. Essas experiências específicas analisadas são:  

  1. a campanha de monitoramento da merenda denominada Projeto Égua da Merenda, João!, no âmbito do Programa Nacional da Merenda Escolar, implementado em escolas estaduais pela CGU-Regional Pará, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação do Pará e envolvendo o Movimento Pacto Estudantil pela Educação Pará (MPEPEP) e a Organização Social Belém (OSB – Belém), em Santarém, no Pará, entre 2016 e 2018;
  2. o Projeto Monitorando a Merenda, uma iniciativa do Projeto Ouvidoria Ativa do Programa Nacional da Merenda Escolar, implementado em escolas estaduais pela CGU-Regional Pará, em parceria com a Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Organização Social Belém (OSB – Belém) e a Secretaria de Estado da Educação do Pará, em Belém, Pará, entre 2016 e 2017;
  • o Projeto Monitorando a Merenda, no âmbito do Programa Nacional da Merenda Escolar, implementado em escolas do Distrito Federal pela Controladoria Geral do Distrito Federal, com a anuência da Secretaria de Estado do Distrito Federal e a participação das escolas, do Instituto Federal de Fiscalização e Controle e do Center for Civic Media, em Brasília, entre 2016 e 2019;
  1. o Projeto Monitorando a Merenda, no âmbito do Programa Nacional da Merenda Escolar, implementado em escolas estaduais, capitaneado pela CGU-Regional Bahia, em parceria com a Secretaria da Educação do Estado da Bahia, com a Ouvidoria Vai à Escola da SEC/Ba e o Observatório Social da Despesa Pública de Jequié, entre 2018 e 2019 em Salvador, Jequié e Lauro de Freitas;
  2. o Projeto Estudantes de Atitude é uma iniciativa desenvolvida no contexto escolar pela Controladoria Geral do Estado de Goiás (CGE-GO), em parceria com a Secretaria de Estado da Educação – SEDUC.

Nesta etnografia do ecossistema brasileiro da participação política e cidadã com a mediação de tecnologia cívica digital para monitoramento e avaliação de serviços e políticas públicas no contexto escolar, a pesquisa aborda questões e iniciativas do mundo real, com foco na melhoria dos serviços e políticas públicas nas escolas por meio da participação cidadã e da tomada de decisão baseada em dados combinando interfaceamento entre modelos top-down e bottom-up em configurações de arranjos socioestatais e societais.

As iniciativas de monitoramento cidadão e avaliação de serviços e políticas públicas no contexto escolar analisadas fazem uso da mediação tecnológica de plataformas digitais como o Monitorando a Cidade e o WhatsApp, plataformas utilizadas nos quatro primeiros casos. Bem como, o uso de infraestrutura de outras plataformas digitais na quinta iniciativa como o SurveyMonkey, o Google Forms, o Telegram, o Whatsapp, Facebook, Instagram, YouTube e o Smartsheet. Estas ferramentas tecnológicas digitais permitem a participação política e o empoderamento dos cidadãos nas relações e interfaces socioestatais e societais através da coleta de dados e informações com a mediação tecnológica cívica digital para identificar, compreender, colaborar, cocriar, incidir e transformar suas realidades através da cogovernança construída no contexto das inovações democráticas com o uso de tecnologias cívicas digitais.

Segundo Gray (2016), dados e informações digitais devem ser usados para atender a interesses da sociedade e do cidadão, através da “reimaginação da política de dados" para promover o desenvolvimento humano, o empoderamento cívico, o avanço do progresso social e o fortalecimento da democracia.

O uso das ferramentas cívicas digitais na coleta de dados e informações permite realizar “um processo coletivo que visa discutir questões críticas, obter informações para melhor compreendê-las, e dialogar com atores locais para desenvolver soluções” (MARTANO et al., 2017).

Os resultados preliminares da pesquisa demonstram que cada interfacemento dos mecanismos de accountability burocrática apresentaram diferentes tipos e conformação de modelos e arranjos institucionais de monitoramento cidadão para a avaliação dos serviços e políticas públicas. Constata-se que, apesar do uso comum da mediação tecnológica cívica digital, em todas as iniciativas o contexto sociopolítico contribui para a configuração de vontades políticas e de arranjos institucionais que contribuem para a obtenção de diferentes resultados.

Verifica-se que a tecnologia cívica digital é um fator relevante de engajamento do cidadão que adota esse tipo de ferramenta como responsável pela coleta de dados e isso pode trazer uma diferença para esse grupo social, para esse arranjo específico, quando o uso dos dados e informações permitem a mudança positiva no processo de formulação e implementação das políticas e serviços públicos.

Dessa forma, a participação política mediada por tecnologia cívica digital, nestes casos específicos, a partir da produção colaborativa de dados e informações com escala e tempestividade contribui para aumentar a responsividade dos governos. Verifica-se que os cidadãos apresentam contribuições e cobram serviços e políticas públicas de qualidade ao poder público através da ativação ou interação com agências de accountability sociestatal e societal exercendo o controle social, a fiscalização e o controle externo em interfaceamento com participação também com atores da sociedade civil. A sociedade civil também exerce o controle social articulando mecanismos e agências com poder fiscalizar e aplicar sanções, conferindo legitimidade à participação da sociedade por ser um ator estratégico também de contribuir com a educação para a cidadania.

Para saber mais acesse o artigo intitulado Processos de participação cidadã mediados por tecnologias digitais: um estudo sobre monitoramento participativo e avaliação de políticas públicas no contexto escolar, publicado no 44º Encontro Anual da ANPOCS, realizado entre os dias 1 e 11 de dezembro de 2020.

 

Manoel dos Santos[2]

 

Referências

GOIÁS. Controladoria-Geral do Estado de Goiás. E-BOOK Estudantes de Atitude, Edição 2021. Projeto Estudantes de Atitudes, CGE-GO, 2021. Disponível em: https://www.controladoria.go.gov.br/files/New-Folder-1/Anexo1_13346.pdf. Acesso em: 23 jul. 2023.

GRAEFF, E. Evaluating Civic Technology Design for Citizen Empowerment. EUA: Massachusetts Institute of Technology, 2018.

GRAY, J. Dataficação e democracia: Recalibração de sistemas de informação digitais para atender aos interesses sociais. Revisão progressiva Cheio Sociedade e migração, 2016.

MARTANO Andres; CRAVEIRO, Gisele da Silva; REISER, Emile; VILLI, Marisa. Monitorando a merenda no Pará: uma experiência de coleta de dados para ação cidadã. MIT Center for Civic media. Colaboratório de Desenvolvimento e Participação USP. Instituto Humanitas360, 2017.

MONITORANDO A CIDADE. (2017). MIT Center for Civic Media. Disponível em: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.ionicframework.monitorandoacidade. Acesso em: 20 out. 2020.

SALTELLI, Andrea et al. Five ways to ensure that models serve society: a manifesto. p. 482-484. Nature 582, 482-484, 2020.

SANTOS, Manoel dos; CRAVEIRO, Gisele da Silva. Collaborative Production of Data by Citizens for Monitoring and Evaluation of Public Policies in the School Context. Disponível em: https://data-talks.uni-muenster.de/page26227324.html. Acesso em: 7 ago. 2023.

VILLI, M. de C. O monitoramento participativo como estratégia da sociedade civil para controle social: um estudo de caso da plataforma Monitorando a Cidade, SP: USP, 2018.

Link relacionado: INOVAÇÕES DEMOCRÁTICAS COM MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA CÍVICA DIGITAL NO CONTEXTO ESCOLAR | Co:Lab (usp.br)

 

[1] Orientadora e Professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, credenciada no Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política, Líder do grupo de pesquisa Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (CoLab-USP). Doutora em Engenharia de Sistemas pela USP, Mestre pela Unicamp em Ciências da Computação.

[2] Doutorando em Mudança Social e Participação Política pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e integrante do grupo de pesquisa Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (CoLab-USP). Mestre (2021) em Estado, Gobierno y Políticas Públicas, pela Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais – Flacso/UFG. Mestre (2016) em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável pela ESCAS/IPÊ-SP, com concentração em Educação Ambiental.

MANOEL DOS SANTOS
MANOEL DOS SANTOS

Doutorando em Mudança Social e Participação Política pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e integrante do grupo de pesquisa Colaboratório de Desenvolvimento e Participação (CoLab-USP). Mestre (2021) em Estado, Gobierno y Políticas Públicas, pela Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais – Flacso/UFG. Mestre (2016) em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável pela ESCAS/IPÊ-SP, com concentração em Educação Ambiental.

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